16.5.10

Capítulo 48

Amy chegou triunfante na sala, não podia se comunicar com Oliver, mas esperava que ele a entendesse.

- Me desculpe, rapazes, alguns homens precisaram de uma prensa.

Ela se sentou de frente para Case, seu olhar analisando por completo a inspetora.

- E então Case, vamos ter que lhe prensar mais ou você vai confessar tudo?

Ele riu.

- Não sei o que quer que eu confesse, Inspetora, eu não fiz absolutamente nada.

Amy Ambrosio olhou o homem sentado à sua frente. Lindo, bem arrumado e completamente frio. Era preciso ser o oposto dele, desequilibrá-lo a tal ponto que o faria confessar.

- Corta essa, Dr. Hyde. Nós sabemos muito bem dessa sua estorinha furada. Vai dizer que não adorou tê-las matado e torturado?
- Cale a boca Stone, não vê que eu e ele estamos tendo uma conversa? Você não está sob a sua jurisdição, eu mando por aqui.

Oliver a encarou por alguns segundos, com o cenho franzido.

- Saia, quero falar a sós com ele.

Bruscamente, ele se levantou e bateu a porta, claramente confuso e irritado. Sienna o agarrou pelo braço e o puxou para a sala de onde observava o interrogatório.

- Não fique de coração partido, é um truque.

Ele gaguejou.

- N-não estou de coração partido.
- Claro que não. Oh, você é tão sensível! - Ela riu. - Vamos assistir ao show.

Ele se postou ao lado dela, observando Amy sozinha em uma sala com um assassino frio e cruel. Conseguiria assistir a tudo?

Do outro lado do vidro, Amy procurava inspiração. Não sabia ser uma cadela autoritária, talvez fosse um pouco arrogante, mas nunca se gabara por ter uma posição mais alta que outros homens. Não era algo que pudesse fingir, era um traço de sua personalidade, amplificado mil vezes.

- Aquele incompetente, não consegue nem fazê-lo falar.

Ela olhou o médico de esguelha, um músculo em seu rosto se contraiu. Estava chegando lá.

- Oh, me desculpe. Se sentiu incomodado? Uma mulher te mantendo aqui, um bando de homens aos meus pés, comendo na minha mão, isso te incomoda?

Ele elevou os olhos para ela, cheios de, ao que parecia, ódio. Isso a motivou, ela avançou para ele e virou a cadeira dele para si, quase colando o rosto no dele.

- Você me odeia, não é? Me acha uma vagabunda porque consigo fazer com você o que outras não conseguiram. Eu fiz você virar o cordeirinho, um cordeirinho frágil e submisso.

Oliver tremeu e Sienna segurou a mão dele.

- Ela é durona, Stone. Acredite. Ela sobreviveu a mim. - Seu sorriso era selvagem.

Ele assentiu com a cabeça, virando-se para olhá-la.

Capítulo 47

Oliver a segurou, assim que se afastaram do consultório.

- Ficou louca, Sienna? Dando mole para um suspeito assim?

Para sua sorte, Amy vinha chegando, não gostaria de ouvir um sermão de Oliver.

- Alguma sorte, Ambrosio?
- Eu vim perguntar isso a vocês, todas elas se consultaram com Theodore Case.

Sienna continuou sem expressão, ela sabia que tinha algo de errado com aquele cara, mesmo que fosse tão bonito. Ele também não tinha expressão, apesar de se desculpar, seus sorrisos eram falsos, forçados, e ele pareceu aliviado quando ela mentiu sobre o caso. Talvez fosse o brilho repentino dos olhos dele, ela não sabia, a única coisa que sabia era que também era falsa, logo, reconheceria um igual. E Theodore Case era seu igual.

- É uma pena, ele era realmente interessante.

Amy abrira a porta do consultório de Case, também se impressionara com o grau de organização, mas não se deixou distrair por nem mais um segundo.

- Sr. Case, poderia me acompanhar até a delegacia? Gostaria que respondesse a algumas perguntas.
- Já respondi algumas perguntas para os outros agentes, mas já que é tão bonita, posso lhe conceder esse direito. - Ele sorriu e a acompanhou.

Oliver olhou para ele, por algum motivo, não gostara nada daquele sujeito.

- Sabe, ele me lembra muito você, Strife.
- Lindo, sexy e inteligente? - Ela sorriu, seguindo a inspetora.
- Não, pedante, cafajeste e metido.
- Ora!

Ela lhe deu um tapa no ombro, indo embora logo depois. Ele a seguiu rindo.

Sienna não gostara nada de ser excluída do interrogatório, uma vez que Oliver a delatara, Amy a proibiu de chegar perto do médico. E ela também percebeu que não havia esse negócio de "policial bom e policial mau", tanto Amy quanto Oliver estavam pegando pesado com Case, mesmo que ele parecesse não se importar. O rosto ainda era inexpressivo e sua fala calma e displicente asseguravam que ele era inocente.

Ela reviu alguns princípios de psicologia, mentalmente. Tinha tido algumas aulas sobre isso na faculdade, mas nada que se aplicasse no interrogatório. Ela bateu no vidro, uma ajuda para aqueles dois iria bem. Amy foi quem se levantou, segundos depois, ela chegava à saleta.

- Eu o observei enquanto vocês o interrogavam. Theodore Case é um psicopata. - Amy abriu a boca, mas Sienna a interrompeu. - Toda essa ausência, a atuação que ele fez no consultório, a sedução. Tudo isso bate com o perfil de um psicopata.
- Tá, o que eu tenho que fazer?

Apesar de extremamente surpresa, Sienna continuou.

- Ele acha que a vítima aqui é ele, não vai sentir remorso algum pelas vítimas, então de nada adianta mostrar as fotos dos corpos mutilados. Ele é a tradução literal de "frio e calculista". O que você tem que fazer ele se sentir submisso. Ele tem essa ilusão de estar no poder, você tem que destruí-la. E você, não Oliver, Case se sente ameaçado por mulheres, por isso as degrada daquela forma.

Sem titubear, Amy marchou com passos fortes para a sala de interrogatório.

Capítulo 46

Rapidamente, Amy passou os nomes dos médicos, para cruzamento de informações.

Oliver foi direto ao escritório de Theodore Case, junto com Sienna, Amy seguiu para Charles Gordon. Ele se mostrou extremamente prestativo. Alto, Theodore tinha olhos profundos e castanhos, um sorriso sensacional e um corpo atlético.

- É ele.
- Como, Strife?
- Se ele não for o assassino, se importa me dar o telefone dele?

Ele a ignorou depois deste comentário.

- Sr. Case, estamos investigando uma série de assassinatos. Sou o Agente Stone e esta é minha parceira, Sienna Strife.
- Muito prazer, Theodore. - Ela sorriu.
- Claro. - Ele também sorriu. - Em que posso ser útil?
- Gostaria que respondesse algumas perguntas.
- É óbvio. - Ele sorriu, desculpando-se. - Sentem-se.

Sienna observou o consultório. Limpo, organizado, nada fora do lugar.

- Sr. Case, você é casado?

Oliver a olhou, indignado, como ela podia pensar na própria vida em uma hora como essa?

- Ainda não tive o prazer, Srta. Strife. Mas está nos meus planos.

Ela olhou para Oliver e ele prosseguiu.

- Você se lembra de Georgia Lennox?
- Não, apesar do nome não me parecer estranho. Ela é uma das moças mortas?
- Sim e se consultou com você alguns meses atrás.
- Atendo muitas pessoas, Sr. Stone, não espera que me lembre de cada uma delas, espera?

Sienna sorriu.

- Claro que ele não espera. Sr. Case, não se lembra de nenhuma particularidade? Desconfiamos que ela tenha sido morta por alguém próximo a ela. Alguma vez ela já veio aqui com um namorado ou algo do tipo?

Oliver a olhou de esguelha, ela estava mentindo descaradamente. Não a desmascarou, esperou pacientemente.

- Não me lembro bem dela. Vou buscar no computador. - Ele olhou alguns segundo para a tela. - Ah, sim. Me lembro dela. Georgia costumava vir sozinha, nunca a vi com um namorado.
- Ninguém do sexo masculino?
- Receio que não.

Sienna olhou em volta, fingia estar pensando.

- Já se envolveu com alguma paciente, Dr. Case? É um homem bonito, não me surpreenderia com uma resposta positiva. - Ela sorriu, um de seus sorrisos avassaladores.
- Não muitas, mas isso não tem muito a ver com o interrogatório, tem? - Ele retribuiu o sorriso da jornalista. - Bom, receio não ter mais tempo de ajudá-los, tenho uma consulta marcada para daqui a pouco, mas sintam-se à vontade para me ligar, estarei disposto a colaborar plenamente.
- Ligarei, não se preocupe.

Capítulo 45

- Você não vai precisar de um mandado?

Oliver andava no encalço de Amy pelos corredores do hospital.

- Mandado? Stone, ela tem peitos, mesmo que pequenos, pode fazer o que quiser.
- Não uso meus "peitos" para essa finalidade.

Strife revirou os olhos. Eles agora haviam parado na recepção e antes que a recepcionista reclamasse, Ambrosio mostrou o distintivo.

- Você vai nos mostrar esses registros agora ou vai presa, sua decisão.

Sienna se calou, Amy podia ser muito persuasiva, se quisesse. A recepcionista bufou e chamou o diretor.

- Só vão conseguir alguma coisa com um mandado. Posso perguntar o interesse pelos nossos registros?
- Estamos investigando uma série de homicídios e algumas pistas nos trouxeram até o seu hospital.
- Sinto muito, Inspetora Ambrosio. Só cederei informações com um mandado.

Sienna se virou para Stone.

- Ela vai ficar bem frustrada agora, quer ir tomar um café enquanto ela arranja um mandado?

 Oliver olhou para Amy, que já havia sacado o celular.

- Claro.
- Ótimo, tem uma máquina de café logo ali, vamos.

Trinta minutos depois, um policial veio entregar a ela o mandado. Ela logo caçou Sienna e Oliver.

- Vamos, seus irresponsáveis.
- Irresponsável é você que invadiu o hospital sem um mandado.

Ela não respondeu e marchou até a recepcionista.

- Os registros. Agora.

Sem muita animação e sob os olhos do diretor do hospital, a recepcionista inseriu a senha e abriu a lista de consultas.

- Georgia Lennox, com quem ela se consultou nos últimos três meses?

A recepcionista digitou os devidos comando no computador.

- Três médicos diferentes.
- Cardiologistas?

Sienna já estava impaciente com tanto suspense.

- Não trouxe a minha bola de cristal hoje, se importa de nos dizer os nomes?

A recepcionista bufou e clicou algumas vezes.

- Gabrielle Lewis, Charles Gordon e Theodore Case.
- Todos cardiologistas?
- Sim.

Sienna olhou para Amy e Oliver.

- Descarte a mulher. Procuramos um homem.

Capítulo 44

Contrariada, Sienna deixou o bar, nos calcanhares de Oliver e Amy, entraram no carro de Ambrosio, dirigindo para a sede da Scotland Yard. Lá chegando, o legista os aguardava.

- Como o assassino já esteve em alguns países do mundo, pedi os relatórios dos outros legistas à Interpol e cruzei algumas referências. - Ele mostrou algumas coisas, que Sienna não conseguiu enxergar bem. - No relatório da perícia francesa, achei algo interessante. Todas as vítimas frequentaram um hospital antes de morrer, cada uma com seu problema. Georgia Lennox tinha um problema cardíaco, que necessitava de atenção, apesar de não ter plano de saúde. Nenhuma delas tinha. Lennox tinha um aneurisma, que podia estourar a qualquer momento. Chantal Lee tinha prolapso da mitral e por aí vai.

Sienna estava indignada.

- Então você interrompeu meu programa para me dizer que todas elas foram ao hospital antes de... - Parou de falar abruptamente.

Então era isso! Tinha que ser isso, era algo fantasioso, mas valia a pena tentar.

- Os cortes, são iguais a um corte de bisturi, não?

Gold assentiu com a cabeça.

- Espera aí, Strife. Você está suspeitando de um médico?
- É óbvio, não Ambrosio? Estamos falando de um homem com acesso fácil à presas indefesas, que pode causar dor ou até aliviá-la.

Amy assentiu.

- É um homem que gosta de estar no poder em um trabalho onde ele próprio decide quem morre e quem vive.
- Oliver, pensa rápido. Um médico que viaje constantemente.
- Sei lá, Médicos Sem Fronteiras?

Amy fez um gesto irritado com a mão.

- Não, não eram pobres coitadas. Talvez uma rede hospitalar internacional.

Amy correu para, o que parecia ser, a sua mesa. Ela logo abriu o computador.

- Vou cruzar as referências dos cartões de crédito e checar se todas elas frequentaram o mesmo hospital ultimamente.

Ela digitava rapidamente, Oliver e Sienna aguardavam.

- Rede de Hospitais e Clínicas Holy Heart.

Ambrosio e Stone correram para a porta. Sienna continuou parada.

- Vocês não vão conseguir muita coisa a essa hora. Por que não continuamos tomando uma cerveja?
- Nós vamos agora ao Hospital, Sienna. E você vai conosco.

Oliver a arrastou até o carro e a empurrou para dentro do mesmo.

- Eu vou acabar com esse médico. - Murmurou enquanto acendia um de seus cigarros.
- Não vai fumar no meu carro, Sienna.

Ela sorriu e expirou a fumaça.

Capítulo 43

Ela logo se sentou com eles, Amy não parecia bem, fosse o fato de o bar estar lotado, suas roupas ou (o que suspeitava) Oliver havia arrastado-a para lá. Não o conhecia bem, mas parecia o tipo de coisa que ele faria.

- Vocês já pediram alguma coisa?

Amy não se deu ao trabalho de responder.

- Não, estávamos esperando por você.
- Ótimo. - Ela se virou para um garçom que passava. - Uma rodada de cerveja, por favor.

O silêncio predominou até chegarem as cervejas, ela segurou sua caneca e logo tomou um gole, rindo de Stone ao vê-lo fazer uma careta enquanto bebia.

- Quente. Me esqueci desse detalhe.
- Bebemos quente por aqui.
- Claro que sim. - Ele bebeu mais um gole. - Você está bonita.

Ela sorriu.

- Obrigada.

Amy a olhou.

- Está parecendo uma vadia.
- Não tenho culpa que você goste de se vestir como a sua avó. - Parecia não ligar para o insulto. - Na verdade, Amy, você já me disse coisas piores. Está de bom humor hoje?
- Na verdade sim, o camafeu era mesmo uma peça de estima de Lennox.
- Claro que era, mas, por favor, não falemos de trabalho, quero esquecer disso. Como vão seus pais? Priscilla, especialmente.

Amy bebeu um pouco.

- Bem, como sempre.

Sienna ficou em silêncio, por um tempo, virando-se para Oliver.

- Você sabia, não é? Da minha origem.

Ele quase se engasgou.

- O que?
- Quando eu desdenhei da casa de Mary Ann você disse "Nem todos nascem em berço de ouro, Strife". Você sabia, não é? Você checou as minhas referências!
- Eu não ia aceitar qualquer maluca como minha parceira. Não que você seja normal, sabe.

Ela riu.

- Todos somos anormais. Veja Amy, por exemplo. Santinha por fora, uma louca selvagem por dentro.
- Me deixe fora disso, Sienna. Não me conhece.
- Conheço-a melhor do que pensa, Barbie, fomos melhores amigas, se lembra?

O celular de Amy e Stone tocaram ao mesmo tempo. Os dois pareceram mais animados.

- Vamos. - Disseram em uníssono.
- Não, eu quero beber.

Amy a puxou.

- Vamos logo, Gênio do Mal, temos novas provas.

Capítulo 42

Seu celular tocou, após refletir por alguns segundos, ela o atendeu.

- Strife.
- Aqui é o Stone, onde você está?

Ela suspirou baixo.

- Saindo do Times agora, o que você quer?
- Estou com a amiga da vítima, pensei que gostaria de falar com ela.
- Não quero falar com ninguém, Oliver. - Ela andava rápido, não queria encarar Markus ou deixar que ele a alcançasse. - A Barbie Policial está com você?
- Está.
- Ótimo. Vocês dois querem sair pra beber comigo?

Ele demorou um pouco a responder.

- Claro.
- Ótimo. Às 7 no The Western.
- Ok.

Ela desligou o telefone e subiu na moto. Ela acelerou perigosamente sua moto, pela qual nutria uma paixão especial, era algo que o pai lhe passara. Os dois gostavam de motos. Ela balançou a cabeça, procurando afastar essas ideias nostálgicas, aquilo a machucava.

Precisava arejar a cabeça, era inegável que Markus ainda mexia com ela, ele era um erro. Nunca se apegaria, ela se prometeu, ele foi uma falha. Sair lhe faria bem, nem que precisasse beber com a Barbie Policial para isso. Talvez esquecesse dela depois de algumas canecas de cerveja.

Ela se arrumou bem, deixou o cabelo natural, com ondas largas caindo pelas costas esguias. Vestir-se provacativamente, do jeito que gostava, sempre lhe restaurava. Também se maquiou, era algo que gostava de fazer. Faria tudo que gostava e esqueceria aquele idiota. Russo de uma figa.

Oliver e a Barbie foram pontuais, quando chegou, eles já estavam sentados em uma mesa perto da janela.